
Herança de um sistema colonial destinado à pilhagem dos recursos nacionais, a rede ferroviária argelina transformou-se desde a independência num instrumento estruturador ao serviço do desenvolvimento económico, da integração territorial e do apoio à indústria.
Sessenta e três anos após a retoma da soberania nacional, o caminho-de-ferro continua a desempenhar um papel essencial na dinâmica de desenvolvimento do país, através de projetos de modernização da rede, extensão ao Grande Sul e linhas mineiras estratégicas.
A primeira linha ferroviária na Argélia data de meados do século XIX, ligando Argel a Blida, à qual se juntou uma linha mineira na província de Annaba, que ligava a mina de ferro de Kherraza ao porto interior de Oued Sébouse.
Concebida com lógica puramente colonial e funcional, esta infraestrutura visava essencialmente facilitar a extração e exportação de recursos naturais, sem preocupação com o desenvolvimento local.
Na independência, em 1962, a Argélia herdou uma rede degradada e heterogénea, tanto em termos técnicos como funcionais, o que exigiu a criação de um programa ferroviário especial integrado numa nova visão de desenvolvimento. Graças a isso, as infraestruturas foram reabilitadas e a rede estendida progressivamente a diversas regiões.
Em 2007, foi criada a Agência Nacional de Estudos e Seguimento da Realização de Investimentos Ferroviários (ANESRIF), incumbida de programar e orientar os grandes projetos do setor.
Entre os projetos emblemáticos estão a linha dos Planaltos Superiores, com 1.000 km, ligando Tébessa a Sidi Bel Abbès, assim como a modernização do corredor norte e a linha mineira do Oeste.
Desde 2020, o setor ferroviário tem testemunhado uma dinâmica sem precedentes, com a expansão da rede nacional, refletindo a vontade do Estado em promover transporte sustentável e reforçar o desenvolvimento económico e social em todo o território.
De fato, com mobilização dos recursos humanos e financeiros necessários, a Argélia lançou um ambicioso processo de modernização e reforço da rede ferroviária, que elevou o comprimento da rede para 4.787 km, com objetivo de atingir 6.500 km a curto prazo e 15.000 km até 2030.
Para concretizar esta ambição, foi criado em 2024 um grupo público dedicado à execução ferroviária, reunindo quatro empresas especializadas em estudos, eletrificação, infraestruturas e obras, para assegurar uma gestão eficaz de projetos estruturantes como as linhas mineiras e o corredor transsaariano.
Entre os projetos em curso estão a linha Touggourt–Hassi Messaoud (154 km), o corredor mineiro oeste Béchar–Gara Djebilet (950 km), cuja conclusão está prevista para o final de 2025, a linha mineira leste Annaba–Tébessa (422 km), cujo troço sul (Djebel El‑Onk–Oued Kebrit) está concluído, enquanto os troços norte e central estão em execução para melhorar o transporte do minério até ao porto de Annaba.
Paralelamente, estão em desenvolvimento projetos para ligar zonas industriais, cimenteiras, silos e depósitos de combustível à rede ferroviária.
Grandes esforços estão também a ser feitos para modernizar os sistemas de sinalização e gestão eletrónica, através de parcerias internacionais.
Além disso, foi alocado um orçamento considerável para renovar o material circulante, com a aquisição de locomotivas modernas, comboios de passageiros climatizados de longa distância, bem como vagões de mercadorias.
Para melhorar a qualidade dos serviços aos passageiros, foi lançado um programa nacional de reabilitação e modernização de 75 estações ferroviárias.
No âmbito do seu novo programa ferroviário, a Argélia avança firme rumo à ligação do Sul do país à rede nacional, através de cinco corredores estratégicos: Argel–fronteira com o Níger (2 439 km), Orã–fronteira com o Mali (2 480 km), Bechar–Gara Djebilet (950 km), Jijel–Djanet–extensão até à fronteira com a Líbia (2 275 km), Annaba–Touggourt (780 km).
Alguns trechos já estão operacionais, outros em curso ou estudo, com o objetivo de reforçar a ligação Norte–Sul do país e favorecer um desenvolvimento equilibrado e inclusivo.
Enquanto aguarda a conclusão destes ambiciosos projetos, a rede ferroviária permanece um pilar essencial na estratégia de diversificação económica da Argélia, proporcionando um meio de transporte eficaz, sustentável e vantajoso tanto para os cidadãos como para os investidores.
Fonte: APS.